http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/a_danca_das_bailarinas_cegas.html
Quando começou a ensinar balé clássico a
adolescentes cegas, a professora de dança Fernanda Bianchini ouviu de
muitos colegas que seria impossível transformar as moças em bailarinas,
pois era preciso que o aluno enxergasse os movimentos para poder
imitá-los. O início foi de fato desanimador. Tentava ensinar posições e
passos ajustando braços e pernas das meninas – as sequências eram
reproduzidas, mas logo se afrouxavam. A turma começou a progredir quando
as próprias alunas sugeriram um método de aprendizado que se revelou
muito mais eficiente: pediram para tocar o corpo de Fernanda enquanto
ela fazia cada movimento. Se não tinham o sentido da visão, as garotas
podiam contar com o tato. Imitavam, a partir das impressões captadas
pelos dedos, a disposição dos músculos da professora ao realizar
abertura de pernas, ao executar dobraduras ou ao ficar na ponta dos pés.
Era 1995, e ela tinha apenas 16 anos.
Nos últimos 16 anos, mais de 300 crianças e adolescentes com deficiência
visual passaram pela Associação de Balé e Artes, no bairro Vila
Mariana, em São Paulo, onde Fernanda, hoje com 32 anos, leciona. O Balé
de Cegos, como é conhecida a companhia, já inspirou escolas de dança no
país e no exterior. Formada em fisioterapia e em dança, a bailarina
abusou da criatividade. Para tornar os movimentos das meninas mais
fluidos, por exemplo, amarrou folhas de palmeira nos braços delas e
orientou-as a não deixar as asas imaginárias desgrudar de seus membros.
Aos poucos, evoluíram dos posicionamentos estáticos para rodopios e
piruetas.
A companhia mantém-se com doações e com o investimento de
patrocinadores. As bailarinas já fizeram apresentações em várias regiões
do país, pelas quais receberam cachê. “O balé não aprimora somente a
postura, o equilíbrio, a noção espacial e corporal – o principal
trabalho é sobre a autoestima do deficiente visual”, observa Fernanda.
As aulas de balé, sapateado e dança de salão são gratuitas, ministradas
na Associação de Balé e Artes, na rua Humberto I, 298, Vila Mariana, em
São Paulo. Informações: (11) 5575-9898 ou no site
www.ciafernandabianchini.org.br/.
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